segunda-feira, 5 de novembro de 2007

Características Estéticas e sua Relação com a Gengiva

Relações Estéticas entre Dentes e Gengivas

Contorno gengival
Um aspecto a ser analisado nas restaurações dos dentes anteriores superiores é o contorno gengival. De acordo com Stein (1977), o contorno gengival na face vestibular poderia ser inserido numa forma triangular. O lado mesial deste triângulo é maior que o distal, posicionando o ponto mais alto do contorno gengival ligeiramente deslocado para distal. O ponto mais alto do contorno gengival, localizado no vértice deste triângulo, é chamado de zênite (Stein, 1977; Scharer, 1986, Rufenacht, 1990).
Existem algumas situações clínicas em que precisamos destes conhecimentos para obter resultados estéticos mais satisfatórios.
No enceramento da gengiva em próteses parciais removíveis e totais é importante posicionarmos o zênite de forma adequada, ou destacarmos sua posição acompanhando esta forma também no contorno gengival. Na confecção de facetas diretas, indiretas, ou coroas totais em prótese fixa, o acabamento é feito de forma a direcionar as linhas de ângulo mesial e distal para reproduzir esse triângulo cervical, no qual, o zênite fica ligeiramente deslocado para distal. Dessa forma, a linha de término nestes preparos são confeccionadas com um contorno cervical que determine previamente o posicionamento do zênite.
Da mesma forma, se houver necessidade de aumento de coroa clínica em dentes anteriores, o periodontista poderá reproduzir a correta localização do zênite no contorno do osso alveolar. A forma do osso determinará a forma da gengiva marginal, permitindo o posicionamento distalizado do zênite.
Além da localização distalizada do zênite, deveremos analisar também a sua altura, assim como a progressão gradual na altura dos zênites de dentes vizinhos. A altura do zênite em dentes vizinhos, quando é modificada abruptamente promove um efeito anti-estético muito ruim para o sorriso do paciente. Um erro típico é quando, devido à perda óssea após extrações, ou devido à perda de inserção gengival, um protesista ou TPD tenta elevar a coroa do dente acompanhando a perda óssea e criando um dente com uma altura bem maior do que os dos vizinhos. Esse erro pode ser evitado colocando-se a coroa com o colo numa altura semelhante à dos vizinhos e preenchendo o restante do espaço com um material que reconstitua a cor da raiz, ou mesmo reconstitua a cor da gengiva (Stein, 1977; Scharer, 1986; Chiche and Pinault, 1994).

Altura do zênite no incisivo central
O zênite dos dois incisivos centrais deve estar sempre na mesma altura. Se o zênite de um incisivo central estiver mais alto do que o outro, e o paciente tiver exposição de gengiva durante o sorriso, a diferença na altura do zênite vai ser logo percebida, pois, desarmonias entre incisivos centrais são prontamente evidenciadas no sorriso, já que estes são os dentes mais próximos ao observador. A simetria entre os incisivos centrais é uma regra básica em estética dental e inclui também a semelhança na altura de suas coroas, ao nível da gengiva. Quando houver problemas como perda óssea desigual, ou preparos cavitários com parede gengival em diferentes alturas na face vestibular e os incisivos centrais apresentarem contornos gengivais em planos diferentes, a restauração, ou dente artificial poderá caracterizar uma diferença entre coroa e raiz, ou coroa e gengiva artificial, para que a altura das coroas dos incisivos centrais permaneça no mesmo nível. (Scharer, 1986; Chiche and Pinault, 1994).

Progressão gradual do zênite
Numa reabilitação, quando repomos vários dentes, devemos planejar uma progressão gradual do zênite dos dentes a serem substituídos.
Um erro básico em prótese removível ou prótese fixa ocorre na substituição de um dente onde houve reabsorção do osso alveolar. Para acompanhar o osso reabsorvido, as próteses muitas vezes se apresentam com o colo deste dente mais alto, deixando um degrau entre o zênite de dentes vizinhos o que vai contra o princípio de progressão gradual do zênite. Para evitar esse erro, traçamos uma reta entre os zênites dos dentes vizinhos ao espaço protético para localizar o zênite dos dentes no espaço edêntulo. Se existirem desníveis que vão contra a progressão do zênite de dentes vizinhos , devemos restabelecer a altura natural da coroa e reconstituir o restante com raiz ou gengiva artificial. Estes desníveis, quando o dente ainda está presente também podem ser corrigidos, quando houver indicação, por meio de aumento da coroa clínica e/ ou tração ortodôntica. Estas correções devem ser planejadas em conjunto e analisadas no enceramento para evitar que se perpetuem na prótese definitiva (Scharer, 1986; Chiche and Pinault, 1994).

Conclusão: O zênite localiza-se ligeiramente distalizado no contorno cervical das faces vestibulares. Sua altura é semelhante entre dentes homólogos e tem uma progressão gradual entre dentes vizinhos.
Sempre que em prótese parcial removível esse erro for observado, deve ser corrigido ainda na prova dos dentes em cera. Para obtermos estas características após a prova final de uma prótese fixa, é preciso que tenham sido planejados no enceramento, nos preparos, nas coroas provisórias, na prova da infraestrutura (em metal, porcelana pura ou cerômero) e na prova final.

Planos incisal e gengival paralelos à linha interpupilar
Para atingirmos melhores resultados estéticos em uma prótese, precisamos também harmonizar a inclinação do plano incisal com a linha interpupilar.
O plano incisal, que passa pelos bordos incisais de pares de dentes anteriores deve ficar paralelo à linha interpupilar, linha de referência horizontal na face.
Quando traçamos uma linha unindo o zênite dos dois incisivos centrais, ou dos caninos superiores, esta linha, ou plano gengival, deve também ser paralela à linha interpupilar. No caso dos incisivos laterais, esta relação com a referência horizontal nem sempre existe, e pode ser utilizada para quebra da uniformidade no sorriso (Rufenacht, 1990; Chiche and Pinault, 1994; Lechner, 1997)
O plano incisal, para entendermos de uma maneira mais prática, é aquele determinado no plano de cera de uma base de prova para montagem dos dentes em prótese total. Quando determinamos a inclinação do bordo inferior do plano de cera na arcada superior, para montagem dos dentes anteriores, estamos determinando a inclinação do plano incisal, o qual, deve ser paralelo à linha interpupilar, ou paralelo ao solo.
Este princípio pode parecer óbvio, mas este erro tem sido observado em reabilitações bilaterais onde ocorre perda óssea unilateral e o rebordo reabsorvido é utilizado como referência para o posicionamento dos dentes. O mesmo princípio é válido para próteses fixas ou removíveis. No caso de próteses totais e removíveis, é possível corrigir a posição dos dentes na prova dos dentes, ainda montados na cera. O colo dos dentes, portanto, nunca deve seguir a altura do rebordo. O complemento acima do nível do colo deve refazer a cor da raiz, com uma cor mais saturada, ou, refazer a cor da gengiva acima dos colos posicionados em harmonia com os dentes vizinhos. Em prótese fixa, fazemos as correções na prótese provisória, de forma que, os planos incisal e gengival fiquem paralelos à linha interpupilar. O provisório, ajustado na boca do paciente, nos oferecerá mais informações para confecção da prótese, em suas várias fases de prova.

* Copyleft Adeliani Almeida Campos
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